O Sábado Santo é como aquele momento de silêncio total depois de uma grande tragédia. Quando já não há mais o que dizer e tudo o que resta é o peso do mistério. Depois da dor intensa da Sexta-feira Santa – com seus pregos, espinhos e o grito de Jesus na cruz – o sábado chega como um vazio sagrado. O corpo de Jesus está no túmulo de José de Arimatéia, e os discípulos, com medo, se escondem e lembram cada detalhe da paixão. Parece que até o mundo parou de respirar. Tudo fica em silêncio. Nenhum terremoto, nenhum milagre visível. Só o tempo passando lentamente, como se aquele fosse o dia mais longo da história.
O silêncio que ensina a esperar
Hoje em dia, vivemos com pressa, querendo tudo pra já. Mas o Sábado Santo nos ensina a esperar. Maria Madalena queria ungir o corpo de Jesus, mas não pôde por causa da lei do descanso de sábado. Ela teve que guardar seu amor e sua dor. Às vezes, também passamos por momentos parecidos: quando a cura não vem, quando rezamos e parece que Deus não responde, quando sofremos e nada faz sentido. Nessas horas, somos chamados a ter fé, mesmo sem entender tudo. Como Jó, que sofreu muito, mas permaneceu firme, às vezes nossa missão é simplesmente permanecer.
O mistério escondido no túmulo
Enquanto a cidade seguia com sua rotina, algo incrível acontecia nas profundezas do mundo. Os antigos cristãos acreditavam que Jesus desceu ao mundo dos mortos como um herói vitorioso, cheio de luz. A morte, que parecia ter vencido, agora era vencida por Jesus. Ele entra ali não como derrotado, mas como Salvador, libertando os que estavam presos desde os tempos de Adão e Eva. É um grande mistério: quando tudo parecia perdido, era justamente aí que Deus estava agindo de forma mais poderosa.
A espera ativa
A Igreja, com sabedoria, vive esse dia em silêncio: o altar está vazio, não há missa, os sacrários estão abertos. Parece que nada acontece, mas tudo isso tem um sentido: estamos em vigília, em atenção diante do mistério. Quando a noite chega, começa a Vigília Pascal com muitos símbolos: o fogo novo, o canto do Exsultet, os batizados. Tudo isso nos mostra que a espera cristã não é ficar parado – é uma espera cheia de esperança, como quem prepara a casa para receber alguém muito amado.
Do silêncio ao canto de Aleluia
Durante a Quaresma não cantamos o "Aleluia", e isso tem um motivo: preparar o coração. Quando finalmente cantamos esse louvor na noite da Páscoa, ele vem carregado de emoção. Os sinos tocam, o órgão toca forte, o povo se alegra como os israelitas depois de atravessar o mar. Mas essa alegria só faz sentido porque antes veio o silêncio. A ressurreição não é só um final feliz – é o ponto alto de toda a história. Quando o diácono canta “Cristo ressuscitou!”, ele está dizendo que nenhuma dor é em vão, que todo túmulo será aberto e que Deus responde até o silêncio mais profundo.
O que o Sábado Santo nos ensina
Esse dia tão especial traz lições importantes para o nosso tempo. Num mundo que quer tudo para agora, ele nos ensina que:
· O crescimento acontece no silêncio, como a semente que parece morta antes de brotar (Jo 12,24).
· Deus tem um jeito diferente de agir – como quando fez o povo de Israel andar 40 anos no deserto para chegar a um lugar que estava perto.
· A paciência também é um caminho de santidade – muitos santos passaram anos sem sentir consolo, mas nunca deixaram de confiar.
Neste Sábado Santo, que possamos, como José de Arimateia, oferecer o nosso coração para acolher o mistério de Deus. E quando o domingo chegar, com as mulheres indo ao túmulo, vamos descobrir que a pedra já foi retirada – não para deixar sair um morto, mas para mostrar que o Vivo já saiu, vitorioso sobre a morte.
"A noite vai embora, o dia está chegando!" (Romanos 13,12) –e esse novo dia não terá fim.