1 A IDENTIDADE DO RELIGIOSO IRMÃO: MISTÉRIO DE COMUNHÃO E MISSÃO.
“E todos vocês são irmãos” (Mt 23,8)
1.4 TESTEMUNHAS DO REINO DE DEUS NA DINÂMICA DO ESPÍRITO SANTO
O último elemento que precisamos considerar brevemente, diz respeito à missão do Irmão salesiano. Se na especificidade dos afazeres, a missão do salesiano irmão se distingue da do salesiano presbítero, no seu sentido maior e carismático elas se identificam. O papel de qualquer salesiano é a educação e a evangelização dos jovens. Como fala nossas Constituições: “Missionário dos jovens, o salesiano leigo ou presbítero é portador do amor de Deus aos jovens, especialmente aos mais pobres” (C 2). Houve determinas épocas, onde separávamos profano do sagrado, dicotomia pouco aceitável atualmente. Naquela época tendia-se a supervalorizar as coisas ligadas à vida presbiteral, chamas de sagradas por exelência. Com isso, houve uma inclinação a relacionar a vocação do Salesiano irmão com as coisas “profanas” do “mundo”, como diziam (também Dom Bosco): “coisas que os padres não podem fazer”. Ótimo, hoje sabemos que dentro dos princípios do mundo moderno, ao entendermos o ser humano como alguém integrado e, a vida sagrada ou profana não de forma separada, mas estamos inseridos aí no mundo onde, ao mesmo tempo sagrado e profano se encontram. Sagrado e profano depende das escolhas que fazemos, do modo de viver, como já dissemos, da opção fundamental que cada um faz. Nesse sentido, o que diferiria a vocação do salesiano irmão da do presbítero é que o primeiro não recebeu as ordens que constituem a vida presbiteral e o segundo sim. Diante do ministério específico recebido no sacramento da ordem, certamente há uma distinção entre religioso presbítero e salesiano irmão, entretanto a missão é a mesma: a educação dos jovens na fé.
O salesiano irmão é chamado, como o são todos os cristãos, a participar da missão da Igreja, em força dos sacramentos do Batismo e da Crisma. Sua consagração apostólica recebida na profissão religiosa é o modo salesiano de viver a consagração batismal e de realizar sua vocação ao apostolado. Toda sua vida deve se transformar em apostolado. A missão é algo que está muito mais ligada ao ser do que ao fazer, por isso falamos de testemunho de vida. Não é o que fazemos que caracteriza a essência de um apostolado, mas o como fazemos e o “porquê” do fazer. Toda atitude que visa a salvação do jovem, sua formação, seu bem, quando mediada pela fé em Jesus Cristo, por nossa profunda adesão ao projeto do Reino, certamente é apostolado: estamos sendo verdadeiros apóstolos de Jesus.
Não existe apostolado melhor ou pior, há apostolado ou não, explico-me: podemos começar a julgar pelos nossos critérios hierárquicos o grau de valor de um apostolado, esquecendo-nos que toda atividade apostólica, se retamente orientada pelo Espírito de Cristo Jesus é apostolado. Lembrando-se que nossa missão visa a educação e evangelização dos jovens, conforme nosso pai e fundador Dom Bosco. Esse é nosso carisma e nossa forma de contribuir com a Igreja de Jesus Cristo. Entendendo desse modo, todo trabalho do salesiano irmão, sendo ele, profano ou religioso, se busca de forma autêntica o bem dos jovens, deve ser entendido como parte de sua missão, de seu apostolado. Na verdade, é o que está fundamentando a nossa ação que vai defini-la como apostólica ou não. Quais motivações estão por detrás do que fazemos. Quando estamos no pátio, na sala de aula, nos trabalhos cotidianos, se estamos testemunhando o amor de Deus pelas pessoas, sobretudo pelos jovens, certamente estamos atuando pastoralmente.
O Capítulo 21 nos recorda que todas as atividades do salesiano irmão estão ligadas entre si e todas juntas finalizadas em Cristo. O salesiano irmão pode, pois, participar de todas as tarefas educativas e pastorais (exceto as exclusivas do ministério presbiteral) que são próprias da comunidade, contribuindo ativamente para a ação evangelizadora da comunidade salesiana .
O Capítulo Geral Especial, ao falar das tarefas distintas e complementares na congregação salesiana usa os seguintes termos: “Se a obra é comum, as tarefas são distintas. A vocação religiosa laical que tem é tão cheia de significado e consagração como a do sacerdote, pois se trata de perfeita consagração a Deus: “a vida religiosa laical constitui em si mesma um estado completo de profissão dos conselhos evangélicos” . A missão que o salesiano irmão desenvolve junto dos jovens, na sua condição de leigo consagrado, não pode representar apenas um ativismo prático e laborioso nos diversos setores da congregação. Sua missão funda-se também no testemunho radical, conformando vida interior e vida de ação. Vale repetir São Paulo: “ Não sou eu quem vivo, mas Cristo é que vive em mim”. Ainda o mesmo apóstolo: “Arremeto para tentar alcançá-lo, porque sei que já fui alcançado por Ele”. No momento em que somos envolvidos no nosso ser pelo amor de Jesus, então conseguimos testemunhá-lo concretamente nos nossos trabalhos, no nosso apostolado. O salesiano irmão, como queria Dom Bosco, deve ser pessoa de profunda fé: fé nos jovens, fé no amor fraterno, mas, sobretudo, fé em Jesus Cristo.
O amor ao próximo, expresso concretamente no serviço aos jovens, deve representar na vida do Salesiano irmão, um compromisso profundo com o Evangelho, com a justiça cristã, abrindo já no aqui da história um lugar para maior fraternidade e solidariedade, lugar onde os sofrimentos e as injustiças sejam amainadas, senão, por vez superadas. O amor ao pobre, ao pequeno, ao jovem trasmalhado por tantas agressões, deve ser o guia diário do salesiano irmão. Diante de tanta descrença com o futuro, cabe-nos ser uma palavra de esperança e conforto; cabe ao salesiano irmão fazer o papel daquele que enxuga as lágrimas do jovem e estende a mão sustentando-o na sua caminhada. Nossa missão deve ser como a do bom samaritano (Lc 10, 29-37) que socorre o homem caído na beira do caminho; do Pai misericordioso (Lc 15,11-32) que recebe do volta o filho perdido ou ainda do Simão Cirineu (Mc 15,21), ajudando os jovens a carregar suas cruzes diárias.
Meus caros coirmãos, não tenho muito mais o que falar. Concluo com as palavras do papa Francisco na sua carta às pessoas consagradas quando ele pergunta: “Jesus é verdadeiramente o primeiro e o único amor, como nos propusemos quando professamos os nossos votos? Só em caso afirmativo, podemos- como é nosso dever – amar verdadeiramente e misericordiosamente cada pessoa que encontramos no nosso caminho, porque teremos aprendido d’Ele o que é o amor e como amar: sabemos amar, porque teremos o seu próprio coração” . Que Dom Bosco nos ajude na nossa realização e na realização de nossa missão como salesiano irmão.
“A missão dá a toda a nossa existência o seu tom concreto...”, dizem as Constituições