O Centro Salesiano do Aprendiz (CESAM) de Goiânia é referência no acesso da juventude ao mercado de trabalho, recebendo jovens de 14 a 22 anos em situação de vulnerabilidade social. A instituição se destaca pelo acolhimento e acessibilidade, incluindo aprendizes neurodivergentes no Programa de Socioaprendizagem desde 2014.

O termo se refere ao funcionamento cerebral significativamente diferente do que é considerado típico, incluindo pessoas com: Transtorno do Espectro Autista (TEA), Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), esquizofrenia e dislexia. Buscando promover mais oportunidades de acesso, a instituição iniciou uma parceria para atender mais jovens neurodivergentes no programa. Inicialmente, o projeto será direcionado à aprendizes com autismo do Projeto Voe, criado pela Unimed no Espaço Bem-Te-Vi.

Ainda não há um consenso de informações sobre a prevalência do espectro no Brasil, especificamente. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), estima-se que há cerca de 2 milhões de pessoas com autismo no país. Já a Centers for Disease Control and Prevention, principal referência mundial a respeito da prevalência de autismo, estima-se que este número chegue a 6 milhões. De acordo com o estudo Retratos do Autismo no Brasil, 1 a cada 4 cuidadores também está no espectro autista, embora ainda não haja comprovação científica de fatores genéticos relacionados à incidência. Realizada pelas startups Genial Care e a Tismoo.me, a pesquisa aponta que 79% dos cuidadores se sentem inseguros ao pensar no futuro de suas crianças com autismo e 27,71% dos adultos no espectro não têm atividades formais.

A diretora executiva do CESAM Goiânia, Rosângela Rodrigues, afirma que a instituição capacita e direciona os participantes para terem autonomia em sua trajetória profissional, independente dos desafios. Segundo ela, o projeto com a Unimed contribui para fortalecer a inclusão social que já acontece no Programa de Socioaprendizagem. “Reforçamos o potencial do jovem como pessoa e como aprendiz em formação para o mundo do trabalho. Sem preconceitos, sem rótulos e sem assistencialismo. Temos o preparo para a formação e a assistência-presença junto aos jovens, e eles realmente se sentem muito acolhidos. Isso está registrado e mensurado, o que nos dá segurança para continuar no caminho certo.”

Com mais de 35 mil jovens já atendidos, o programa busca promover o desenvolvimento do aprendiz de forma integral, envolvendo aspectos profissionais, sociais e pessoais. A diretora explica que o carisma salesiano contribui para fortalecer a inclusão dos jovens com TEA de modo natural na instituição, mas ressalta o papel fundamental de um olhar aprofundado para conscientização, formação e promoção da acessibilidade. “Quanto tivemos uma aprendiz surda, por exemplo, nos organizamos para contratar uma intérprete habilitada e experiente em Libras. A jovem foi acompanhada durante todo seu desenvolvimento no CESAM Goiânia e foi efetivada na empresa que atuava. Por isso, reconhecemos o grande valor dessa nova parceria.”

Os aprendizes com autismo atendidos no Projeto Voe já são acompanhados clinicamente pela Unimed no Espaço Bem-Te-Vi. Sendo um requisito para inserção no Programa de Socioaprendizagem, os jovens devem estar em desenvolvimento no grupo de habilidades sociais da clínica a, no mínimo, seis meses. “Dentro da tríade que se fecha o diagnóstico de autismo, se inclui comunicação e habilidades sociais. Então, no Espaço Bem-Te-Vi é trabalhado como jovem para que esses aspectos sejam aperfeiçoados com o decorrer do tempo. Nós precisamos que essas habilidades já estejam em desenvolvimento para saber como ele vai se posicionar frente a uma capacitação profissional”, explica a coordenadora do espaço, Patrícia Amorim.

Além do desenvolvimento no acompanhamento clínico, as famílias também precisam autorizar a participação do jovem no Programa de Socioaprendizagem. Para isso, os responsáveis e o candidato conhecem o CESAM Goiânia previamente, sendo orientados sobre os benefícios da inserção profissional para a autonomia de pessoas com autismo. “Antes dele ir para o posto de trabalho, a gente também faz o roleplay, que é colocá-lo de frente com a realidade. Por exemplo, inserimos o jovem em uma recepção e pedimos para os nossos profissionais irem lá simular uma pessoa nervosa ou pedindo uma informação. Isso é feito dentro da clínica, com vários profissionais e em uma situação totalmente controlada”, ressalta a coordenadora.

Keila Cristina Vieira é mãe da Olivia Vieira, aprendiz com TEA atendida pelo Projeto Voe. Ela afirma que é uma alegria ver a filha no Programa de Socioaprendizagem e ressalta a importância do apoio que recebeu no CESAM Goiânia. “O acolhimento não foi só pra ela, mas também pra mim. Fiquei três dias lá dentro junto com a Olívia porque era difícil pra mim me desvencilhar dela e lá acalmaram o meu coração. Eu já tenho 56 anos e ela ainda tem 15. Era muito difícil pensar em deixar minha filha sem ter ideia de como seria a vida dela, mas sei que ela está sendo preparada para a vida e com pessoas que a acolhem com tanto carinho. Eu não tenho como expressar a minha gratidão.”
Além de Olivia, o projeto também atende o aprendiz Gustavo Henrique Oliveira. “Acho essa oportunidade excelente. Eu estava esperando faz muito tempo. Sempre sonhei em ser uma pessoa totalmente independente na vida e isso vai me permitir realizar esse sonho.” Os dois jovens são os primeiros vinculados à parceira com a Unimed e já fizeram o módulo de integração inicial do Programa de Socioaprendizagem. Por ser o início Projeto Voe, os postos de trabalho dos jovens serão em unidades próprias da Unimed.

Para recebê-los no CESAM Goiânia, a instituição passou por uma capacitação com o Centro Salesiano de Formação e com o Espaço Bem-Te-Vi, que acompanha clinicamente o desenvolvimento dos jovens durante todo o Programa de Socioaprendizagem. Rosângela reforça que a inclusão de aprendizes com o espectro reflete um compromisso social, humano e cristão dos ambientes de missão salesianos. “Oportunizar o acesso ao mercado de trabalho a esses jovens é garantir a cidadania, promover os direitos humanos e vivenciar o sistema preventivo de Dom Bosco. É um valor, é um pilar e está na nossa essência.”

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