Na semana que celebramos os 134 anos da assinatura da Lei Áurea aconteceu em Campos dos Goytacazes/RJ (CJSP) nos dias 11, 12 e 13/05, a Semana Antirracista no Museu Histórico de Campos. O educador social e psicólogo Miguel Ribeiro participou da mesa “Saúde Mental da população preta: e depois do dia 13?” abordando o tema “ Banzo e Racismo”.
A cidade de Campos dos Goytacazes no Rio de Janeiro ocupou o topo regional do comércio de escravos no Norte-Noroeste, e pelo fato de na comunidade onde a obra salesiana em questão atua, mais de 70% dos moradores declaram-se negras, conforme último censo do IBGE.
Muitos negros morriam ao chegar ao Brasil ou ainda na travessia do Atlântico, inúmeras eram as causas de suas mortes como por exemplo a febre amarela, a varíola, o suicídio na rota ou ainda de banzo. Os que sofriam de banzo não se alimentavam, perdiam o brilho no olhar e apresentavam um aspecto abatido até que suas forças iam sumindo em dias.
O corpo banzado coloca-se num gritante silêncio, a angústia da liberdade suprimida; um sofrimento pela perda do que outrora o foi e não se pode mais exercer a custa da opressão, dando ao suicídio vez. A reflexão se dá em como este banzo ainda permanece na história e, nos corpos negros da atualidade, através do racismo.
Além da grande concentração de escravos na nossa cidade, que durante anos atuou no plantio da cana de açúcar e sempre teve a presença de grandes usinas, Campos também tem na sua história o fato de ter sido uma das últimas cidades a abolir a escravidão.
Dessa forma, Campos dos Goytacazes apresenta cicatrizes profundas do seu passado com repercussão no presente, o que afeta diretamente crianças e adolescentes atendidos pelo CJSP e suas famílias, que ainda apresentam dificuldades com relação à educação, à moradia em condições dignas, à alimentação, ao saneamento básico, ao trabalho formal, entre outros.
“A mesa foi um momento muito singular! Rememorar elementos da cultura e resistência negra, neste ano sobretudo, é momento de renovação de esperanças e forças! Estive com pessoas fortes e que pensam formas importantes de atuação da psicologia nestes espaços. Precisamos de uma psicologia cada vez mais preta, pra assim chegarmos no sofrimento do preto e proporcionar a tão esperada liberdade. É inevitável não lembrar dos 30 anos da Inculturação na nossa inspetoria, e o quão importante também foi este processo para dar aos salesianos negros um sentimento de pertencimento na congregação. Foi linda a mesa sobre saúde mental da população preta!” afirmou Miguel Ribeiro.
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Essa notícia foi elaborada com a colaboração de Ana Carolina Cordeiro e Miguel Alvarenga Ribeiro.