“O individualismo é contrário a tudo aquilo que propões a Vida Religiosa, e, quem não se adapta, tem dificuldade de permanecer ou permanece apenas representando um papel. Há quem passe todo o período de formação inicial representado um agir comunitário, mas quando faz os votos ou, no caso do padre, quando é ordenado, muda radicalmente seu proceder e passa a ter um comportamento individualista dentro da comunidade, contribuindo para deteriorar a Vida Religiosa, minando as relações que ali deveriam existir. ” (Vida Religiosa no Real. HENRIQUE CRISTIANO J. MATOS, p. 33)

Na sociedade pós-moderna, desde Bauman chamado de “Mundo Líquido”, o individualismo é crescente, e de certo modo, tornou-se uma regra. Mas na Vida Religiosa Consagrada, a regra da liquidez baumaniana, não pode ser uma realidade. Vive-se em comunidade, fraternidade, de modo que tudo se deve partilhar, sendo não apenas a mesma casa, a mesma mesa de jantar ou café da manhã, e não somente a capela de orações e momentos espirituais. Compartilha-se o trabalho, as felicidades e sofrimentos; compartilha-se a vida. Pelo menos essa é a proposta, e desde os primeiros passos na vida religiosa o candidato ao mundo da fraternidade deve estar ciente, fazer-se consciente e observar se é de fato a realidade para a qual tem vocação.

Vida Religiosa Comunitária foi o assunto trabalhado e rezado no Aspirinter, realizado pela CRB, em Belo Horizonte – MG, nos dias 02 e 03 de setembro de 2023; na assessoria dos Irmãos Vítor Pravato, FMS, e Joilson de Siuza, FMS. Sendo o aspirantado período de discernimento vocacional, o tema tratado não podia ser melhor e mais atual, visando a fragilidade da vida compartilhadas no século atual.

Trabalhou-se de maneira dinâmica, com palestras, jogos e momentos de boa convivência. Falou-se das realidades na vida religiosa em comunidade; das belezas e desafios. As diversas Ordens e Congregações presentes puderam partilhar de maneira fraterna as realidades que vivem cotidianamente na vida em comunidade, deixando claro que tais realidades são mais comuns do que se possa imaginar.

Falou-se também da realidade do indivíduo no mundo comunitário, dos desafios para inserir-se e ser inserido, dos medos e desafios físicos e espirituais; mas também das superações e alegrias, das acolhidas e do quanto é bom viver a vocação de estar juntos!

Um ponto de grande positividade e destaque foi o protagonismo dado aos participantes do evento, sendo composto por formadores e principalmente aspirantes. Pode-se compartilhar de tal modo as primeiras impressões que os vocacionados possuem da Vida Religiosa Comunitária. Compartilhar torna a caminhada vocacional mais rica, desembaraçada e mesmo mais feliz. Compartilhar também é ato de confiança, abertura com os outros e com o processo de discernimento – abertura com si mesmo.

Tratar de tal assunto no século XXI, no contexto religioso é fundamento, visto que isolar-se tornou-se e tornar-se-á cada vez mais fácil e prático, bastando recorrer aos simples fones de ouvidos, as redes sociais, e ao próprio isolamento físico, deixando a comunidade para buscar amizades e companheirismos fora dela. Ter discutido o assunto com formadores e aspirantes foi uma escolha feliz da CRB, que não deve deixar de tratar o assunto sempre que oportuno.

Na Santíssima Trindade, o Próprio Cristo, nosso princípio e fim vocacional, vive em Comunidade, e nos ensina que uma comunidade cristã não pode se separar por intrigas, pelo individualismo secular, pela liquidez de uma sociedade frágil nos laços e relações humanas. Nossas comunidades humanas jamais alcançarão a plenitude e perfeição da Santíssima Trindade, mas podemos ter no modelo de fraternidade de Deus um modelo de fio condutor para viver com fé, esperança e caridade, em nossa vocação em comunidade.

Santidade e Alegria!

Essa noticia foi elaborada Felipe Charra.

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