A corresponsabilidade da família na educação midiática
Escrito por Ir. Márcia Koffermann, FMA
O número de crianças e adolescentes que utilizam o celular para acessar conteúdos digitais é cada dia maior. Desde bebês, já começam a se familiarizar com os vídeos, as plataformas de entretenimento, os jogos eletrônicos e uma infinidade de outros conteúdos desenhados para todas as idades. Muitas vezes, quando os pais querem que os filhos se acalmem ou não perturbem, oferecem o celular ou o tablet, de modo que, como num passe de mágica, reina o silêncio no lar.
É certo que as tecnologias passaram a fazer parte da vida cotidiana e não é possível pensar o mundo de hoje sem considerar os ambientes digitais. É fato, também, que retirar a tecnologia das mãos das crianças não seja o caminho mais adequado. Porém, é importante considerar e ajudar as famílias a refletirem sobre o modo como crianças e adolescentes estão entrando no mundo digital.
Nenhum pai ou mãe em sã consciência deixaria que uma criança frequentasse sozinha a área mais perigosa do bairro durante a noite, porque existem riscos reais de segurança diante dos quais uma criança não saberia como se defender. O mesmo vale para os ambientes digitais: são como praças públicas, onde se encontra o que há de mais belo no ser humano e também o que há de mais perigoso. Assim, existem riscos reais e concretos que precisam ser considerados e que entram de forma muito silenciosa nos lares das famílias contemporâneas.
Segundo o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), podem ser enumerados alguns dos riscos aos quais as crianças e os adolescentes são submetidos nos ambientes digitais:
Riscos de conteúdo
Acontece quando uma criança é exposta a conteúdo indesejado e inadequado. Isso pode incluir imagens sexuais, pornográficas e violentas; algumas formas de publicidade; material racista, discriminatório ou de discursos de ódio; além de sites que defendem comportamentos insalubres ou perigosos, como automutilação, suicídio e anorexia.
Riscos de contato
Ocorre quando uma criança participa de comunicação arriscada, como com um adulto buscando contato inadequado ou manipulando a criança para fins sexuais, ou ainda, com indivíduos que tentam radicalizar uma criança ou persuadi-la a participar de comportamentos prejudiciais ou perigosos. Isso inclui jogos e desafios que podem acarretar prejuízos físicos e psicológicos.
Riscos de conduta
É quando uma criança se comporta de uma maneira que contribui para conteúdo ou contato arriscado. Isso pode incluir crianças escrevendo ou criando materiais de ódio sobre outras crianças, incitando o racismo ou postando e distribuindo imagens sexuais, incluindo material que elas mesmas produziram.
Riscos de consumidor
Considerando que as crianças são um público estratégico que pode influenciar o restante da família, esses riscos englobam: riscos de marketing; de perfis comerciais; financeiros e de segurança. Essas manifestações de risco podem, por exemplo, afetar a privacidade das crianças, podem representar uma pressão comercial e podem ainda expor as crianças a mensagens ou produtos inadequados.
Em busca do diálogo
Como se vê, são situações de alta periculosidade e que os pais, muitas vezes, nem sequer imaginam que possam acontecer em casa. Essas temáticas, por mais duras que sejam, precisam ser discutidas e conhecidas pelos pais, mães e responsáveis pela educação das novas gerações.
É importante também que os espaços educativos proporcionem ocasiões para discutir esses problemas com as famílias. A educação é sempre um processo complexo e, para ter sucesso, é preciso que todos os envolvidos estejam unidos e somem forças em uma linguagem comum e ter uma incidência concreta na vida das crianças e dos adolescentes.
O diálogo entre escola, família, Igreja, mídias e todas as instituições sociais é um caminho importante para formar o pensamento crítico e reflexivo de um ponto de vista educativo e, também, evangélico. E, nessa perspectiva, a família é um elemento fundamental, de onde brotam valores, práticas, posturas e opiniões que vão ter grande incidência sobre a forma de ser e de agir das crianças, dos adolescentes e dos jovens.
